quinta-feira, 29 de junho de 2017

Morte rima com Sorte

Além da rima, para Ernest Hemingway, diante dos horrores da guerra, aqueles que morriam eram os sortudos. É bem verdade que ao longo de sua vida, a morte foi um tema recorrente. Pelos seus escritos é possível inferir que ele pensava (ou tentava se convencer)  que o fim da vida era algo inevitável e, portanto, deveria ser encarado como algo natural. Tinha prazer (ou uma curiosidade absurda) no confronto vida e morte, tanto que seus esportes favoritos eram a caçada e a pesca (cujo desfecho era sempre a morte), além das touradas, nas quais o toureiro colocava sempre a vida em risco. Penso que o que lhe encantava era realmente a luta em si. Não desejava ver o fim de um ou de outro, mas a batalha. Apreciava o auge do confronto, queria saber até aonde  homem e bicho estavam dispostos a chegar para alcançar a vitória - a preservação da vida -.
Na guerra eram homens contra homens, uma coisa insana e, na sua visão, os que morriam tinham sorte porque, além do fim do sofrimento (de ver semelhantes se despedaçando sob morteiros e metralhadoras), havia a glória por ter dado a vida pelo seu país.
Depois de ser gravemente ferido sob fogo austríaco, sua família, queria que ele voltasse para os Estados Unidos para se recuperar. Mas ele não tinha a menor intensão de fazer isso, queria muito mais. Queria continuar enfrentando o perigo, tinha necessidade de conhecer seus limites. Diante da insistência do pai, lhe escreveu:
"Na guerra, todos nós oferecemos nossos corpos e apenas alguns são escolhidos. Esses são os que tem sorte. Estou muito orgulhoso e feliz porque o meu corpo foi escolhido, mas não deve me dar nenhum crédito extra. Pense nos milhares de outros meninos que ofereceram seus corpos e estão mortos. Todos os heróis estão mortos. E os verdadeiros heróis são os pais. Porque morrer é uma coisa muito simples. Eu olhei para a morte, e eu realmente sei disso. Se eu tivesse morrido, teria sido fácil para mim. Seria, com certeza, a coisa mais fácil que eu já fiz. Mas as pessoas em casa não percebem isso. Eles sofrem mil vezes mais. Quando uma mãe traz um filho para o mundo, ela deve saber que algum dia o filho vai morrer. E a mãe de um filho que morreu por seu país deve ser a mulher mais orgulhosa do mundo e a mais feliz. E é muito melhor morrer no período feliz da juventude sem ilusões, sair da vida em uma chama de luz, do que ter seu corpo desgastado e velho e suas ilusões partidas e desfeitas. Portanto, velha família, não se preocupem comigo. Se eu morrer, é porque eu tive sorte."
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